ESPAÇO MEMÓRIA | Rota do Trabalho e da Indústria

Industrialização e Movimento Operário


Porque possuía um grande número e diversidade de indústrias, assim como uma desmedida concentração operária, O Barreiro torna-se um caso paradigmático quanto à intensidade e aceleração do processo industrial no nosso país.

Resultante da industrialização, iniciada com o caminho-de-ferro em meados do século XIX, a Vila do Barreiro transformara-se num dos terrenos mais propícios à eclosão das ideias de mutualidade, cooperativismo, fraternidade e solidariedade, princípios fundadores das primeiras e incipientes organizações de base operária.

Os primórdios do movimento operário no Barreiro podem situar-se por volta de 1870 quando, uma cisão interna na Sociedade Filarmónica Barreirense, parece refletir uma das primeiras manifestações de tomada de consciência de classe, por parte do operariado local. Contudo, será em 1872, ano de fundação da Associação Fraternidade Operária e das primeiras greves ocorridas em Lisboa, que vamos encontrar no Barreiro a primeira organização operária. Com efeito, criada em Lisboa em Janeiro de 72, a Fraternidade Operária terá aberto logo no mesmo ano, mas em Outubro, uma filial no Barreiro, em torno da qual o movimento operário se organizará na promoção dos seus interesses. 

O ano de 1890 será marcado por dois acontecimentos importantes: a abertura do primeiro Centro Socialista do Barreiro e a criação da Sociedade Fraternal Corticeira, uma das primeiras Associações de Classe criadas na Vila.

Dois anos mais tarde, surgem referências ao Grupo Anarquista do Barreiro e, no ano de 1894, é noticiado o julgamento de 4 operários barreirenses, por motivo de terem participado numa greve dos corticeiros de Almada. Será em 1895, nos meses de Outubro e Novembro, que a imprensa regista movimentações operárias: um movimento grevista organizado por corticeiros na fábrica Lane & Santos, de que resulta a prisão dos grevistas e, na mesma data, a realização de um banquete operário organizado pela Fraternal Corticeira.

Até ao final do século XIX, a ideologia anarquista firmar-se-á especialmente entre os corticeiros, classe organizada e uma das mais reivindicativas. Lutando por melhorias salariais, organizavam-se e comemoravam datas simbólicas para o movimento operário, como o 1º de Maio em 1895 e também em 1898. 

Ainda formadas por corticeiros e sob influência anarquista nascem, a Associação dos Carregadores e Descarregadores de Mar e Terra (já existente em 1910) e em 1911 é criada a Sociedade Cooperativa de Consumo Operária Barreirense, os «Corticeiros». 

Os socialistas, que parece nunca terem conseguido impor-se no seio do operariado local estão, provavelmente, na origem dos primeiros sindicatos nas Oficinas do Caminho-de-ferro em 1903, caso da Associação de Classe dos Operários Metalúrgicos e Artes Anexas. 

De 1914 em diante surge uma forte Associação de Classe do Pessoal dos Caminhos-de-Ferro do Sul e Sueste, que vai aumentar e radicalizar as lutas, afirmando fortemente a ideologia libertária que passará a ser dominante entre a massa operária do Barreiro até ao final da República, o anarco-sindicalismo. 

Na Vila operária, há muito marcada pela indústria química adubeira surge, em 1919, a Associação de Classe do Pessoal da CUF que realiza a primeira greve nesse mesmo ano, nas fábricas que Alfredo da Silva fundara em 1907. 

Por alturas de 1920 fazem-se sentir no mundo os impactos da revolução socialista na Rússia de Lenine, enquanto no Barreiro circula nos meios operários o jornal Bandeira Vermelha, órgão de propaganda das ideias do comunismo e da revolução social.

O ano de 1920 ficará ainda marcado por uma das maiores lutas e derrotas do movimento operário no Barreiro: a greve de 70 dias nos caminhos-de-ferro do Sul e Sueste.

O final da República, deposta pelo golpe militar de 28 de Maio de 1926, conduziria à ditadura fascista e à desarticulação do movimento operário e sindical. 

Se o desabrochar do movimento operário no Barreiro foi marcado pelos conflitos sociais do final do século XIX será, todavia, em diferentes momentos ao longo do século XX, que a Vila operária irá colocar-se no centro de acontecimentos que constituem referência ímpar, nas lutas de oposição ao regime ditatorial de Salazar e Caetano.


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